Na
Rua Governador Valadares, bem próximo ao hospital Santa Maria, havia uma velha
casa de madeira. Abandonada pelos seus donos, aquela casa se tornara um
cantinho dos prazeres. A molecada se reunia todas as noites para bebericar o
que conseguiam, da maneira mais escondida possível, e imaginar que eram homens,
bebendo, usufruindo daquilo que a cultura de nossos pais, machista, desde
pequenos nos ensina ser o certo, mesmo sendo o errado. É cultura, né? Fazer o
quê?!
Outras vezes,
depois dos hormônios mais evolvidos podíamos nos permitir visitas de mocinhas
já mulheres, vivendo as ebulições hormônicas dos seus quatorze, quinze anos, permitindo
às filas de moleques provarem daquele mel prometido, sabia Deus a quem...
Meu
Deus!... Só Deus é que protegia aquela legião de prováveis aidéticos...
E
hoje? O que os jovens fazem?
Não
chega a ser tão diferente, mas hoje a libertinagem e a ausência de valores,
inclusive éticos e morais parecem estar mais acentuadas. Na verdade muita coisa
deixou de ser camuflada...
Quando me lembro da forma como tínhamos medo de
sermos pegos por um adulto. Era medo mesmo! Se nossos pais soubessem de alguma
de nossas traquinagens, Deus do céu! Era “caixão e vela preta!” Hoje parece que
a molecada não se importa com a possível repreensão de um adulto. Ao que
parece, eles nem diferenciam mais adultos de adolescentes ou crianças. Talvez
seja pela confusão que a TV tem feito há anos mostrando crianças que vivem como
adultos, se vestem como adultos, tem uma vida sexual ativa, como adultos... São
crianças... E nem vou pedir que acredite, pois nem é preciso, basta olhar para
os lados.
Achamos tudo o que acontece com a juventude algo anormal, mas não é
bem por aí. Para eles, tudo o que achamos impróprio para suas idades, é muito
normal. Esse tem sido um dos problemas, não deles, mas nosso. Os tratamos como
achamos correto, mas estamos é perdidos, pois eles, com certeza, nos acham
muito atrasados. O pior é que somos mesmo...
Eles
já sabem de tudo o que achamos que não sabem, já conversam sobre todos os
assuntos que pensamos ser vergonhoso para eles, já fazem coisas que nem se quer
imaginamos, quando estão sozinhos ou com os amiguinhos ou amiguinhas. Em suas
cabeças existe um universo que, se pudéssemos navegar por suas galáxias,
certamente teríamos o pior de todos os nossos pesadelos, pois o que esperamos
deles é que sejam crianças, crianças apenas... Mas não o são! Não mais!
Essa crise familiar que o nosso país está vivenciando, por estar ainda em seu
começo, não permitiu que a população parasse e desse a devida atenção que a
discussão merece. Mas a passos largos o caos está tomando nossas casas, nossos
bairros, nossas cidades, e por todos os cantos do país vemos casos de jovens
sem futuro, casos de crianças que dão à luz a outras crianças, casos de pais
cada vez mais omissos, ausentes, e, por isso, muito compreensivos com os seus
filhos quando não deveriam ser...
Então, o que fazer?
Solucionar
este problema será um enorme desafio para as conjunturas políticas que
pretendem comandar o nosso país, os nossos estados, as nossas cidades. Mas,
sinceramente, acredito ser muito difícil que os governos neoliberais,
financiados pelas grandes empresas, banqueiros e corrupção, sejam capazes de
encontrar caminhos que possam ser trilhados por essa nova sociedade que se
apresenta. Até porque é de interesse do poder que as pessoas não tenham a
capacidade de reconhecer a verdadeira situação em que vivem política, social e economicamente
falando. Famílias desestruturadas acabam por contribuir com os problemas
sociais que vivemos hoje de modo insofismável. E quando falo em famílias falo
em todos os tipos de família que temos hoje, pois a família tradicional há
muito que vem definhando por diversos motivos.
Quando
um pai precisa de um político para conseguir que sua conta de luz seja paga, ou
precisa de um corrupto para que o remédio que deveria estar no postinho chegue
até o seu filho, ou precise se humilhar diante de um vereador ou prefeito para
conseguir uma ambulância para levar o seu filho acidentado até a cidade mais
próxima com UTI (o que deveria existir em todas as cidades, se observarmos a
quantidade de impostos que pagamos), quando este pai ou mãe precisa passar dias atrás de um
político para conseguir um contrato temporário para poder sustentar sua
família, como se não tivesse direito a um bom emprego, como se não tivesse
direito a ter em sua cidade um concurso público para que pudesse conquistar a
sua vaga e não precisar ser humilhado por sigla partidária alguma... Quando
coisas assim acontecem, é porque, infelizmente, a sociedade nem se quer sabe o
verdadeiro papel de um político, ou então, pior ainda, a necessidade que o povo
passa devido à corrupção e má administração é tanta que o povo se vê obrigado a
aceitar o inferno em que vivemos... Estamos sem saída... Talvez...
A educação, a ciência, o conhecimento, que são a única saída para o povo, são desmoralizados através das armas que o poder
utiliza para fazer do povo eternos ignorantes: sucateamento da educação pública, em todos os níveis; desvalorização dos profissionais da educação; a TV; a prostituição legal; a
banalização do sexo através de músicas, filmes e sua livre divulgação através
dos diversos e modernos meios de comunicação; até a própria igreja, com sua milenar
alienação cultural e científica, sempre se curvando aos poderosos, seus patrocinadores... Verdadeiro cerco fechado...
Temo muito pelo futuro que
nossos filhos terão... Temo muito pelo futuro que eu terei, pois para todos os
lados que olhamos nestes dias de campanha vemos os frutos da corrupção se
aproveitarem da ignorância, câncer de nossa sociedade, e fazerem com que pernas
e braços empunhem pendões e entreguem folhetins com os números daqueles que sem
dúvida são os culpados por tais braços e tais pernas terem de se submeter a tal
opressão, a tal vergonha, a tal humilhação...
Espero
em Deus que a humanidade possa um dia abrir os olhos, que possa discernir entre
a exploração e a comunhão, que aprenda com o “mistério” de Cristo o que vem a
ser comunidade, entrega, socialismo, luta pelos irmãos, que são as pessoas de
todas as cores, classes, opções sexuais, religiões, partidos políticos, países,
etc. e que através do conhecimento e evolução que o Criador nos proporcionou
possamos construir uma terra livre de opressores, de políticos corruptos, da
ignorância, e que todos tenham oportunidade de ser, de dizer, de sonhar, de
fazer um mundo melhor.