Na escola
Eita, que dava gosto de ver a
professora M... em sua sala de aula. Que desempenho... ela naquele blazer,
impecável... tudo perfeito. Alunos bem vestidos, sala de aula super limpa, dez
alunos apenas, bastante material. Livros, mas muitos livros mesmo, revistas, e
imagine só: cada aluno tinha em sua mesinha um notebook, tudo era ali
registrado, e nem se levantar para mostrar a tarefa ao professor o aluno
precisava, pois, da sua mesa a professora M... acompanhava todo o processo, e
qualquer coisinha, já poderia interferir ajudando os alunos.
A escola era pública. Acredite! E que
beleza... salas espaçosas, climatizadas, um pátio amplo, refeitório com mesas e
cadeiras, onde os alunos sentiam prazer em merendar. E a merenda, essa era
muito boa... um cardápio que era pura saúde. Muitas frutas e verduras. Alguns
alunos, quando chegavam à escola com dez ou onze anos de idade, pois a escola
era apenas de Ensino Fundamental Maior, não gostavam muito de tantas frutas,
verduras, legumes, mas com o tempo, e em curto tempo, passavam a adorar. A
escola exalava um aroma de vida, saúde, comprometimento com a educação, amor,
verdade... e naquele dia a professora M... iria ser condecorada com uma certa
premiação pelo seu bom desempenho na escola. Como disse, era ela impecável, de
uma responsabilidade incontestável. A professora ideal.
Todos,
alunos e professores, após terminar a aula, como de costume, ficavam no jardim conversando
sobre os acontecimentos do dia, discutindo assuntos da aula acabada a pouco, e
nesse dia, então, tinham mais um motivo. E chegada a hora, o diretor da escola
saindo ao pátio e subindo no coreto do jardim da escola chamou a atenção de
todos. Quanta ordem... os alunos tão educados... todos ouvindo o diretor falar,
e tão bem, da amada professora, e ela ao lado, orgulhosa. Foi quando um pássaro
que voava pelo jardim da escola atacou a professora e, fantasticamente, vomitou
na professora que acordou.
Era um copo
d’água. A professora havia desmaiado após uma telha daquele velho telhado ter
caído em sua cabeça, sem esquecer que era dia de segunda, pela manhã, e ela
ainda não havia curado sua ressaca. Uns alunos preocupados, outros fazendo
piadinhas, outros muito ocupados em suas conversas (alguns no celular), outros
aproveitando o acontecido fugiram da aula para o vídeo game... são muitos, mais
de cinqüenta. A professora já acordada começou a se lembrar do sonho, olhou
seus alunos... uma bagunça terrível... olhou as paredes, tudo tão sujo... cadê
o material? Os livros? Seus alunos nem livros didáticos tinham... “notebook?!”
pensou ela com cara de riso. Foi se levantando devagar, saindo da sala, e viu o
jardim, de cimento grosso, ou melhor, cimento grosso esburacado. Nada de
verde... me engano! Tinha um tonzinho de verde na madeira que cercava a escola.
Imagine! Nem muro tinha... Correu um ventinho, enfumaçado, mas refrescou um
pouquinho. Era mês de outubro, e além da fumaça das queimadas e carvoeiras, o
calor era enorme, e ela se lembrou da sala climatizada...
Bem, não
tinha sido grave. A telha pegou de raspão na cabeça. No fundo ela achou foi
bom. Saiu um pouco daquele mundo tão ruim e real. Pensou nos impostos que tanto
ela quanto os pais de seus alunos pagam: “daria pra ser como no sonho...”. Tomou
uma água. A coordenadora já estava agoniada, querendo liberar os alunos. Quem
os agüenta? Ela disse que não. Voltou pra sala, fitou o mais novo buraco do
telhado, e: “Silêncio meninos! Parem já com essa bagunça! Que falta de educação
é essa! Chega! Já copiaram essa parte do quadro?”